Coordenador revela os desafios enfrentados para executar o projeto experimental Lupa NH

Dados hiperlocais da infraestrutua do bairro Novo Horizonte (Macapá/AP) foram inseridos pelos alunos da Escola Estadual Raimunda dos Passos Santos

Em 2015, ao se deparar com a precária infraestrutura de alguns bairros de Macapá, o professor Walter Lima, recém-chegado à Universidade Federal do Amapá (Unifap), teve uma ideia: utilizar tecnologias sociais e a comunicação hiperlocal para dar voz às comunidades locais. Com uma bagagem de pesquisa anterior focada no centro de São Paulo, o professor Walter encontrou em Macapá a oportunidade de aplicar suas visões de comunicação comunitária em um novo contexto.

Leia a entrevista concedida pelo coordenador do projeto, professor Walter Lima

Proejto Lupa: Professor Walter, o que lhe levou a idealizar esse projeto?

Professor Walter: Quando cheguei à Universidade Federal do Amapá (Unifap), em 2015, percebi que as tecnologias sociais, como a comunicação hiperlocal utilizada pela comunidade, poderiam ajudar a revelar e denunciar ao poder público o estado precário que a infraestrutura de alguns bairros. Já tinha pesquisado sobre essa tecnologia em projeto anterior, mas que tinha como referência o centro da cidade de São Paulo. Coincidentemente, fui procurado pela aluna de graduação em Jornalismo (Unifap) Alena Paula Corrêa Tavares, que queria fazer um projeto de Iniciação Científica sobre comunicação comunitária e me informou sobre a existência de um bairro, Novo Horizonte, em Macapá, que possuia, no passado, jornal e rádio comunitárias. Então, sugeri a ela, depois de uma visita ao bairro e vendo em loco a péssima condição de infraestrutura do bairro, que adaptasse para comunicação comunitária via tecnologia digital hiperlocal. Ela teve a bolsa aprovada. Fizemos um hackathon para fazer um piloto do aplicativo e encontrei um parceiro maravilhoso, que nem pertencia à Unifap, Altemir Almeida, que conjuntamente com Felipe Rangel, estudante de Ciências da Computação, fizeram o primeiro piloto e, a partir disso, o projeto evoluiu.

Rádio Comunitária Novo Tempo. Foi vandalizada e não existe mais.

Lupa: E como foi essa evolução?

Walter: A evolução foi paulatina, pois não tinha verba para tocar o projeto. Então, fui sensibilizando colegas do colegiado de Jornalismo e alunos da graduação. Então, consegui a adesão da professora Claudia Assis e dos estudantes Christopher Ferreira e Delano Borges, que realizaram TCC sobre o projeto. A professora Cláudia, com os alunos, desenvolveu e aplicou oficinas de técnicas jornalistas para os alunos do ensino médio da Escola Raimunda dos Passos Santos, escola que se tornou a nossa parceira nesse projeto.

Christopher e Delano (camisa escura) foram os alunos pioneiros da Unifap que colaboraram com o projeto, que se tornou o TTC deles
Christopher Ferreira e Delano Borge produziram TCC sobre o Lupa NH e foram colaboradores pioneiros do projeto

Lupa: Mas, teve uma interrupção nessa evolução?

Walter: Sim, infelizmente. E por três motivos. Eu tive que voltar para São Paulo, indo trabalhar na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), portanto, ficando distante fisicamente da base do projeto (Unifap e Bairro Novo Horizonte). Outro motivo é que o TCC dos meninos terminou e eu não tinha verba para continuar, ou seja, realizar a coleta de dados via aplicativo com os alunos da escola. E, o principal fator, o surgimento da Pandemia, que impossibilitou a ação de campo e outras atividades com os alunos da escola.

Lupa: E como o projeto reiniciou?

Walter: Mesmo trabalhando em São Paulo, eu queria finalizar esse projeto experimental. Então, submeti um projeto para concorrer ao concorrido Edital Universal do CNPq. E o projeto foi aprovado, mas com ¼ da verba solicitada. Fiquei uma semana pensando de iria aceitar realizar esse projeto com uma verba de 25% do necessário. Mas, já estava tendo o apoio do mestrando da Unifesp, meu orientando no Programa Profissional de Inovação Tecnológica, Wellington Pacheco, o qual estava evoluindo tecnologicamente o aplicativo. Empolgado e, confesso, um pouco irresponsável, pois a verba não daria para executar todo o planejamento, cliquei “sim” no sistema do CNPq e, a partir disso, fiquei noite sem dormir pensando como executar esse projeto sem decepcionar os professores e alunos da Escola Raimunda dos Passos Santos, que sempre ficavam empolgados com o projeto.

Lupa: Como conseguiu superar a falta de verba?

Walter: Primeiro, tinha que conseguir novamente apoio voluntário, pois de quatro bolsas de Iniciação Científica que solicitei no projeto, somente aprovaram uma. E consegui grande apoio, com os professores da graduação do curso de Jornalismo da Unifap, Elisângela Lima e Alan Milhomem. Então, tivemos o nosso primeiro bolsista, aluno de graduação em Jornalismo (Unifap), Luiz Felype dos Santos, e depois sendo substituído pela Elessandra Barsottelli e, agora, temos o Breno Pantoja. Essa equipe do projeto foi responsável pela aplicação das oficinas de técnicas de jornalismo e participaram a ação de coleta de dados.

Retomada do projeto, com a professora do curso de Jonralismo da Unifap, A professora de Jornalismo Elisângela Andrade (vermelho): reunião com os professores da Escola.

No campo tecnológico, um orientando de mestrado no Programa Profissional de Inovação Tecnológica, Tiago Eduardo, apresentou um projeto de aplicativo para o projeto e o desenvolveu durante dois anos. O Tiago foi importantíssimo para a evolução tecnológica do aplicativo e no planejamento da ação de coleta de dados no bairro de Novo Horizonte.

Mas, não posso deixar de mencionar um grupo de pesquisadores que, voluntariamente, ajudaram no projeto, e sem eles, o projeto não teria acontecido. A  mestre Samara Sarmanho (UFPA), que desenvolveu o logo e artes do projeto; o Artur Ohashi, responsável pela construção do site do projeto; a doutora Camila Simões (UFPA), que desenvolveu projetos para que pudéssemos concorrer a editais para suplementar verbas do projeto; a doutoranda Jessica Carneiro (UFPA), que produziu artigos acadêmicos, em conjunto, sobre o Lupa; Agnes Arruda (Unifesp), no apoio a ação de coleta de dados e a professora da Unifap, Laiza Mangas, que apoiou na ação de coleta de dados.

Lupa: E como foi a parceria com a Escola Raimunda dos Passos Santos?

Walter: Sensacional, desde o início o projeto foi muito bem acolhido. Antes da Pandemia, o diretor era o professor Abdinel Ferreira, que abriu as portas da escola para o Lupa. Com o novo diretor, depois da Pandemia, Jonatas Ferreira, não foi diferente. Agradeço imensamente ao professor Jonatas e as professoras Juliana e Ramona, os quais permitiram incluir na grade de disciplinas da escola, uma disciplina eletiva sobre o Projeto Lupa, atraindo 21 alunos que puderam participar das oficinas sobre técnicas jornalistas.

Professora Juliana (foto), juntamente com a proessora Ramona, foi fundamental para o sucesso do projeto.
O diretor da Escola Raimunda dos Passos Santos, professor Jonatas, foi um parceiro valoroso nesse processo.

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